sexta-feira, 9 de maio de 2008

Tudo pode acontecer


Texto de Irisbel de Souza Correia


Lucia não sabia mais o que era verdade e o que não era, de uns tempos pra cá, começou ouvir vozes, era como se fosse sonho, mas parecia realidade, a voz não saia da sua cabeça, era exatamente a mesma coisa constantemente, como se tivesse alertando do que poderia lhe acontecer.
Era trinta de agosto de mil novecentos e vinte, Lucia, ainda adolescente, tinha as manias de todas as meninas de sua idade, só falavam do Baile de fim de ano, o vestido que iria usar e o rapaz que iria com ela ao Baile, sonhava com o futuro como todos do Colégio Santa Cecília, planejavam estar juntas na Faculdade, mesmo que fizessem cursos diferentes, não pensava em separar-se de suas amigas Gláucia e Jéssica, pois sabia que fatalmente aconteceria, pois Jéssica queria ser atriz, Gláucia enfermeira e eu, bem não sabia direito o que queria, aliás queria tudo e nada ao mesmo tempo, meu pai queria que eu fosse advogada, minha mãe estilista, meus professores escritora, pensei em todas as possibilidades, mas nada me satisfazia, com o fim de ano mais próximo fiquei agoniada pois teria que tomar uma decisão, e não tinha a menor idéia do que fazer; pensei em fugir antes do Baile para não precisar tomar essa decisão, foi quando comecei a ouvir as vozes, apenas repetia seqüencialmente são três, fiquei intrigada, mas se repetia várias vezes ao dia, até que já restava apenas duas semanas para o Baile, havia esquecido completamente da formatura, pois aquela voz pertinente tomou todas as minhas atenções; como não conseguia desvendar o mistério resolvi me entregar de corpo e alma aos festejos de fim de ano.
Eu, Jéssica e Gláucia fomos nos arrumar na casa da Bárbara, pois sua mãe havia chamado cabeleireiro, manicure e tudo que nós precisávamos para o grande dia, estávamos radiantes com o acontecimento, e além do mais as vozes pararam, (deveria ser a minha consciência pelas escolhas que tinha que tomar), chegamos ao Baile numa limusine branca com chofer, parecia um sonho de princesa. Dancei a noite inteira com o Henrique, a Gláucia com o Bruno, Jéssica com o Diogo e a Bárbara com Samuel, estava tudo lindo, quando derrepente, a professora Ivete veio correndo e chorando muito, gritava fogo, a biblioteca está pegando fogo, todos entraram em pânico, começaram a correr, empurrar uns aos outros tentando escapar do incêndio, quando Bárbara, Jéssica e Gláucia deram as mãos para escaparem , mais elas foram empurrados para a sala de música, os telhados começou a desabar fechando as saídas, quando Jéssica desesperada perguntou por Lúcia, que a muito já estava lá fora, sendo que o Henrique já havia a tirado do salão, foi ai que Lúcia queria a todo custo entrar para salvar as amigas, mas os bombeiros a seguraram impedindo essa insanidade, Lúcia chorava muito ao ver o salão da escola totalmente destruído, e o pior que suas amigas não conseguiram sair de lá, isso imaginava Lúcia, sendo que enquanto Jéssica lembrou da amiga, também lembrou das vozes que Lúcia afirmava ouvir e por conseguinte foi isso que as salvou, ao dizer três, a voz queria dizer dos três livros na sala de música, onde abria a passagem secreta em baixo do piano dando na fonte do lado de fora do prédio, Lúcia com os olhos lacrimejados de tanto chorar abraça sua mãe, e não acredita no que vê, Jéssica, Gláucia e Bárbara saindo da fonte, Lúcia corre e abraça as amigas, e elas a agradecem, pois se não fosse seus pressentimentos anteriores elas poderiam estar mortas agora.

Prenuncio


Texto de Irisbel de Souza Correia

Eram 15h da tarde quando me levantei do sofá, estava um silencio horrível, não tinha vento, nem pássaros,não havia som algum, era como se não existisse mais ninguém, alem de mim, e aquele ambiente sinistro, comecei a caminhar de um lado para outro, sem rumo, tentei ligar alguns eletroeletrônicos mas nada funcionava, já não sabia mais o que fazer, o silencio doía nos meus tímpanos de certa forma, que me agoniava, como se meus pulmões estivessem sendo esmagados, ia e voltava, e o relógio continuava apontado para as 15h, fiquei perplexa, aquilo não podia estar acontecendo apenas comigo, fui à janela, mas ninguém prestou atenção em mim, era como se eu não estivesse ali, até que me dei conta do que estava acontecendo, fiquei presa no tempo, o pior de tudo, é que a vida lá fora seguia seu curso normal, apenas eu estava parada naquele horário, então decidi que teria que mudar aquela situação, deveria ter algum jeito de voltar ao que era antes, era só lembrar o que eu deveria ter feito para que tudo aquilo estivesse acontecendo comigo, mas fiquei pensando e nada vinha em minha mente, até que refiz minha trajetória naquele dia, levantei cedo tomei café, arrumei a casa, almocei, lavei a louça, depois de tudo terminado, sentei para ver novela, cochilei, e quando despertei já estava nesse dilema doido, não havia feito nada de diferente para que estivesse parada no tempo, fiquei imaginando se não poderia ser um trote da minha mente insana, mas como, se eu fosse analisar pelo lado psicológico, não tenho nenhum motivo para isso, não tive trauma nenhum, nenhuma perda insuportável, então pela psicologia não teria nenhum motivo concreto para essa sandice, vamos pensar agora no lado emocional, tudo perfeito, tenho amigos, família, algo com que me preocupar no dia a dia, não vejo nada que possa desencadear uma psicose desse tamanho, a não ser que isso esteja acontecendo mesmo e não seja coisa da minha mente, fiquei tanto tempo aqui, irei olhar o relógio novamente, é claro que tudo deve ter sido um engano, mas para o meu espanto, o relógio continua marcando 15h, não sei mais o que pensar, vou enlouquecer se isso não parar, tentei sair do prédio, mas quando abri a porta qual minha surpresa, não existia fora, era um imenso vazio, apenas nuvens e o céu azul com o sol se pondo no poente, fechei a porta, sentei novamente no sofá. comecei a chorar compulsivamente, estava estérica, eufórica, não sabia como mudaria essa situação, troquei as pilhas do relógio, mais as malditas 15h continuavam lá, quando já estava me acalmando a campainha toca, todos os vizinhos estão em minha porta, gritando e batendo para que eu abra, mas não consigo ir abrir a porta, até que Jonny arromba a porta e todos entram na minha casa, fiquei assustada com tanta violência, todos vão em direção ao sofá e quando olho, quem esta lá? eu, desacordada.

Quando menos esperamos


Texto de Irisbel de Souza Correia

Estava voltando do trabalho como todos os dias, parei numa livraria, aproveitei para ler um pouco enquanto degustava um saboroso capuccino, conversei com vários freqüentadores, mais um deles me chamou atenção. tinha um olhar vago, inexpressivo, aproximei, puxei conversa, mas ele continuou inerte, até que de repente, segurou meu braço, olhei fixamente e disse:
- Boa noite, sou Bárbara e você!
- Sou Gabriel.
- Nunca tinha te visto por aqui é novo na cidade?
- Sim cheguei hoje tenho um trabalho a realizar esta noite, irei embora logo em seguida.
- Foi um prazer conhecê-lo, tenho que ir, mas quando voltar a cidade volte na livraria quem sabe nos veremos de novo.
Bárbara saiu, a noite estava fria, mais muito bonita, estrelada e a lua cheia iluminava tanto que, nem precisava de refletores, dava para ouvir o cantar das cigarras, as corujas, as folhas das arvores balançando, era uma noite perfeita de verão, quando tudo parecia estar perfeito, uma neblina baixou e começou a cobrir os telhados dos edifícios, a noite mudou completamente, perdi a noção do tempo, cada minuto parecia uma eternidade e de repente um grito, não era de dor, mas sim, de medo.
Amanheci agitada não sabia se era por causa do grito da noite anterior, tentei manter tudo natural como se não tivesse ouvido nada, mas infelizmente a campainha toca, meu coração dispara, fui atender a porta não tinha ninguém, voltei ao desjejum, minutos depois a campainha toca novamente ao atender não havia ninguém.
Resolvi sair, caminhar para esquecer o que tinha havido. Encontrei vários amigos do prédio em que morava, conversa vai e conversa vem que nem reparei que já era tarde, me despedi deles e voltei para casa.
Estava próxima de minha quadra, uma aglomeração de pessoas. Fiquei assustada, quanto mais me aproximava do edifício mais pessoas em estado de choque eu encontrava, chorando muito, passei por elas perguntando o que tinha acontecido e de tão transtornadas não me respondiam, era como se estivesse invisível. Quando cheguei próximo ao prédio escuto uma voz me chamando, era o rapaz da livraria, disse que já tinha chego à hora, olhei pra frente e não acreditei no que via, meu prédio desmoronado apenas seus destroços sobraram, perguntei aos policiais se havia algum sobrevivente, não me responderam a única coisa que restava era esperar por algum conhecido, na companhia do estranho Gabriel que não se afastou nem um minuto. Até que começaram a retirar os corpos, me aproximei, para verificar se era alguém conhecido, desmaiei ao ver que era o meu corpo que ali jazia desde eu ter ouvido aquele grito.