Texto original Camila Paier. Adaptação: Irisbel Correia
Você não sabe levar relacionamentos inseguros. E quando cede alguns beijos sem compromisso, algumas situações que normalmente não faria, se ressente todinha, como se fosse o fim do mundo. Se na sua vida medieval quisesse escrever nas horas vagas, isso seria bem visto ? Acho que só se o marido fosse liberal. Prefere cartas longas, de cinco páginas, há conversas instantâneas, e-mail’s. Esperou para se dar inteirinha para um cara que te ligaria no dia seguinte. Ultimamente vem preferindo à discrição a badalação. Não beija mais que dois na mesma festa, mesmo se for o príncipe dos seus sonhos (que certamente existe no seu lado idade média), mesmo querendo ser ALFA e independente. Cansou do ritmo acelerado e dos papos fúteis da noite badalada. Sim, admito alguns desses fatos. Só uma coisa, detesto cozinhar. Apesar de que faria esse esforço, para agradar marido e filhos Com algum orgulho, mas receios. Até um tanto careta. Coloquei piercing, para tentar uma metamorfose, marquei de fazer as tatuagens, mas desisti, fico só no piercing, que quando enjoar tiro. Abro mão das drogas ilícitas, usufruídas por praticamente todo jovem atual. Por você, o cara só beijaria sua mão no primeiro encontro. Pediria em namoro aos seus pais, como sinal de respeito. E o noivado? Numa grande festa, pedindo a sua mão com um anel enorme em brilhante. Verdade, verdade. E quem não quer esse romantismo arcaico? Passear de cavalo com longas tranças, ser salva do tédio não sei se pelo príncipe, mas algum Robin Hood da era moderna, que dá alegria a quem precisa, e a tira de quem não valoriza o sorriso com bravura? Estranho para quem está dando um chega pra lá no romantismo, mas muita mulher é assim, e apenas não se assume ser arcaica. Você sonha em viajar para o velho continente, Europa, que eu sei também. Escuta as músicas que seus pais hierarquizaram para você, e gosta disso. Não compreende a bissexualidade, mas aceita os homossexuais como quem quer abraçar alguém logo após um acidente: cheia de compaixão. Trair, para você, além de falta de amor é algo imperdoável. É tímida, só se soltando quando já conhece bem o terreno em que pisa. Não faz amizades por conveniência, e nem sai sorrindo por aí, efusiva. Se fecha com seus livros, e mundos paralelos. Satisfeita com sua família, amigas, e outros pouco selecionados. Você é a antítese, o paradoxo. O que é contrário sempre se associa a certo medo, e quem sabe, prazer. Não quero ter que provar que gosto do que repugno e aceito o que acho intolerável apenas para agradar aos moderninhos de plantão. Tenho pavor de montanha russa, e a imbecilidade dos jovens quando em bando me dá náuseas. Sou feita para andar em par, em trio. Festa é algo pra de vez em quando, se não deprimo logo. Todas aquelas conversas montadas, as relações superficiais em que um quer mostrar ter mais que o outro me fazem bocejar. Para escapar da rotina, é que ensaio a tentativa de me parecer com todos os outros, ocasionalmente. Vão querer te xerocar, qualquer dia. Uma clonagem em massa, do fenômeno que é não pertencer a esse mundo superficial. Daí me reinvento mais uma vez, não para seguir algum modismo, mas sim para camuflar a essência um pouquinho, e escapar sem demais arranhões. E se você esconder tão bem e o Robin Hood não te perder de vista? Jogo pelo caminho um pouco do elixir da essência: é o que marca, fica, e aponta as setas de quem a gente realmente quer encontrar. Antiga, ou não.
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