quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Era uma vez...


Vagando pela internet, encontrei mais um dos belos textos da Camila, intenso como os outros, me identifico muito com suas palavras, me toca porque passa o que eu trago dentro do meu coração, por esse motivo, gostaria de compartilhá-lo com vocês. Apenas fiz algumas adaptações para a minha realidade. Vale a pena a leitura.




Por: Camila Paier Adaptação: Irisbel Correia

Sou branca, mas não de neve; e sim, de lua. De me esbaldar na noite, e não ter forças para levantar e pegar o próximo sol da manhã. Não sei se apareço em espelhos que me indicam como a mais bela, mas há milhares de bruxas à minha caça, soltas atrás de mim. No lugar de sete anões, me enviaram oito pestinhas, aos quais carinhosamente chamo de sobrinhos. Trocaram a casinha pequena que devia me servir como abrigo por um apartamento espaçoso e bem localizado. Sem saber quem é você, espero que me espie à espreita, a conversar com os passarinhos na sacada. Ainda assim, morderia cada uma das maçãs envenenadas existentes apenas para beijar você em todas às vezes em que despertar.

Vez enquando sou bela, porém adormecida não me encontro. Minhas fadas são a madrinhas do meu futuro casamento: minhas irmãs e as minhas melhores amigas. A maldição que sofri, é provável que ainda não tenha se quebrado: o azar é inúmero, e o príncipe ainda não esfaqueou o coração da vilã travestida em dragão. Aliás, ainda nem ao menos sei se o moço já chegou. Tampouco, se capaz seria de se armar contra o tédio, a desconfiança, e a promiscuidade. Esperaria cem anos em sono profundo se possível, se quando acordasse com seus lábios nos meus, tudo estivesse exatamente igual e o saldo somasse um grande amor.
Meu maior sonho não é ir do mar, a terra, e nem ao menos, possuir um par de pernas. Confesso então, que viajar os céus para longe me parece uma das mais atraentes idéias. Vender minha única imortalidade possível, a escrita, por algum desvario inconsequente, não me parece plausível. Enquanto isso, alguns princípios já cairam por terra, e muitas verdades foram reconstruídas, em prol de grandes amores que não deram pé.
Graças a Deus tenho mãe, porém sou escrava da moda. Sou prendada na cozinha, e uma mula quanto à limpeza. Ganho regalos de uma irmã coruja, que me parece muito mais fada do que qualquer madrinha. Aqui em casa não há ratos, mas os pássaros na janela me socorrem da solidão. Não constrói todo um vestido, mas é capaz de me fazer abrir um sorriso. Converto os bailes, em pubs e festas, bares e jantares. E tão mais esquecidos que eu, os protótipos de realeza deixam o sapatinho salto doze lá, esquecido. De cristal, ou não.
Sou ciumenta, mas não demonstro, assim como também não tenho asas e nem pó de pirlimpimpim no vestido curto. Nunca tive um amor impossibilitado por guerras e em lado oposto, mesmo que minha personalidade forte entrasse em conflito e algumas cabeçadas tenham sido dadas, se preciso. Estou só no galho da mais alta árvore, esperando ainda Tarzan chegar. Janto sozinha em palácios enormes, enquanto Alladin não derrota Jafar e vem me buscar.
Cabelos enormes, e o que me resta então é ser filme inédito e uma história já manjada. Alguém que suba pela minha trança embutida e não se importe de comigo ficar numa mesma torre, distante da civilização moderna e todo esse caos urbano. E que me devolva à alegria roubada dos dias anteriores, junto com o pote no fim do arco-íris. Por enquanto, sou só uma plebéia que não se incomoda em fazer uso do transporte coletivo, ou de caminhar a pé quando necessário. Arrumar a casa, o quarto e em dias de unha já descascada, lavar a louça. O dia em que a carruagem chegar, que seja pequena.

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